Victor Hugo Pontes
A estrutura dramatúrgica sustenta o movimento, mas a narrativa perderá linearidade, de modo que o espectador veja aqui aquilo que quer ver num Tchékhov dançado. Depois de traçada a narrativa e de encontrados os agentes da acção (personagens, ligações, conflito, clímax, desenlace, etc.), a ideia é despojar a trama, de modo que se torne dançável e em simultâneo reconhecível, chegando-se a uma composição coreográfica que sobreviveu a hipotéticas linhas divergentes entre o teatro e a dança, ou entre texto e movimento sem palavras. Um texto como ponto de partida é o desafio a que o coreógrafo se propõe. O texto de A Gaivota é, também ele, uma espécie de sucessivas tentativas de criação e de existência. De resto, a reflexão sobre o acto criativo é um dos pontos mais fortes desta peça de Tchékhov, e um dos que mais interessa a Victor Hugo Pontes.
Victor Hugo Pontes integrou a equipa criativa do espectáculo A Gaivota, com encenação de Nuno Cardoso, assim como das obras Platónov e As Três Irmãs, também de Tchékhov. O fascínio pelo autor levou-o a encenar Os Malefícios do Tabaco. Agora, o objectivo é criar dança a partir de uma das peças mais importantes da contemporaneidade, mesmo que se trate de um texto finissecular. Para Victor Hugo Pontes, alguns dos pontos mais interessantes do teatro de Tchékhov são a composição de enredos a partir de acontecimentos banais, o desenho das personagens enquanto seres humanos comuns e o jogo do acto criativo, numa espécie de teatro-dentro-do-teatro avant la lèttre. O trivial torna-se trágico, a vida comum torna-se criação. Segundo Jovan Hristić, “Tchékhov introduziu o tempo no drama (...), que transporta e transforma a vida dos seus heróis”. Ora, Victor Hugo Pontes pretende, neste novo espectáculo, corporalizar esta ideia, trabalhando com bailarinos de diferentes gerações e formações, bailarinos com vidas diferentes, trabalhando diferentes linguagens com vista a alcançar uma nova linguagem, testando os limites da possibilidade de dança-dentro-da-dança a partir da sucessão e suspensão do tempo, e do modo como apenas durante o acto criativo é possível controlar estes dois movimentos.
Ficha Artística
Direcção e Coreografia Victor Hugo Pontes. Cenografia F. Ribeiro. Desenho de Luz e Direção Técnica Wilma Moutinho. Música Original Rui Lima e Sérgio Martins. Apoio Dramatúrgico Madalena Alfaia. Assistente de Coreografia Marco da Silva Ferreira. Intérpretes (criação) Allan Falieri, Ángela Diaz Quintela, Daniela Cruz, Félix Lozano, Jorge Mota, Leonor Keil, Marco da Silva Ferreira, Valter Fernandes, Vera Santos e Victor Hugo Pontes. Intérpretes 2018 Ángela Diaz Quintela, António Matos, Daniela Cruz, Félix Lozano, João Cardoso, Leonor Keil, Marta Viana, Marco da Silva Ferreira, Valter Fernandes, Vera Santos e Victor Hugo Pontes. Direcção de Produção Joana Ventura. Assistência de Produção Mariana Lourenço. Co-produção Nome Próprio, Centro Cultural de Belém, Centro Cultural Vila Flor, Teatro Nacional São João e Teatro Viriato. Apoio Residência Artística Novo Ciclo ACERT e O Espaço do Tempo. Apoio Clube Português de Cinematografia - Cineclube do Porto.
Duração 105’
Faixa etária: M/12 anos
Projecto financiado pelo Governo de Portugal - Ministério da Cultura / Direcção-Geral das Artes.
arquivo do espetáculo
Estreia
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