OS GIGANTES | ©Paulo Pimenta
Destaque
Victor Hugo Pontes e Dançando com a Diferença
Quarta-feira, às 21h30
Quinta-feira, às 19h30
Na sua última peça, Luigi Pirandello infunde no texto um ambiente sensorial, onírico, em que as palavras servem estados de espírito: tentativas de encontro, hipóteses de caminho, falhas no terreno. É pel’Os Gigantes da Montanha, peça inacabada, interrompida pela morte do seu autor, que Victor Hugo Pontes regressa a um dramaturgo que bem conhece, depois de Drama (2019), a partir de Seis Personagens à Procura de Um Autor.
«Tempo e lugar indeterminados: no limite entre a fábula e a realidade.» Tudo o que acontece em palco é, por definição, inacabado. A ideia não é recriar em movimento o texto de Pirandello, mas transferir para o corpo dos intérpretes essa sensorialidade onírica que ali vemos, a fantasia e a ilusão, indagando os limites da comunicabilidade e a possibilidade de um sem-fim. N’Os Gigantes, o que resta de uma obra inacabada está logo na amputação do título. Usámos a peça de Pirandello com a liberdade recreativa que está no cerne do trabalho com a Companhia Dançando com a Diferença: talvez a «Companhia da Condessa» possa estar no corpo de um só intérprete; talvez os «Enguiçados», rodeados de si mesmos por todos os lados, esperem indefinidamente por alguém que os resgate; talvez os «Gigantes» estejam lá fora, num mundo que despreza a arte do faz-de-conta. «O dia é cego. A noite é dos sonhos e só os crepúsculos são clarividentes para os homens. A alvorada para o porvir. O poente para o passado.» Antecipando o perigo de nos tornarmos todos estranhos, irreconhecíveis, uns diante dos outros, lançamo-nos sem rede na folia desse faz-de-conta: os intérpretes desdobram-se em múltiplas personagens, há fatos de festa e de brincadeira, adereços, música, dança, fantasia, fantasia, fantasia. É um combate ao isolamento – cada personagem, uma pequena ilha –, estratégia para reinventar, no encontro, o caminho que procuramos. Com Os Gigantes, reconhecemos que todos somos afins, e é a partir daqui que a peça caminha sobre um território de comunhão e partilha, antagonista da solidão. Não chegamos a traçar os limites que separam verdade e ilusão, luz e sombra, realidade e imaginação, candura e impiedade, face e máscara, riso e lágrimas. A vida, mesmo a que apenas se vê em cena, pode ser só um sonho de vida; cada um de nós, transformado sobre o palco, pode ser um artista de sonho, ou do sonho.
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